We Are Not Afraid
Há uns meses, resolvi tirar fotografias do meu caminho da residência para a faculdade. Esta foi a primeira que tirei: saindo de casa e contornando o jardim da Tavistock Square, apanhava a rua onde passavam os autocarros.
Nos dias em que estava mais preguiçoso ou atrasado, talvez não mais que 10 durante o ano inteiro, aí apanhava o autocarro para a LSE; na maioria das vezes, caminhava por essa rua fora.
Em tempo de aulas, o horário para sair era muito variável. Mas nos 2 meses em que estudei para os exames na biblioteca, fazia-o invariavelmente entre as 9h30 e as 10h.
A explosão no autocarro, às 9h47 da passada quinta-feira, deu-se precisamente neste sítio. Podem reparar no marco do correio e no início da faixa de "bus". Da janela do meu antigo quarto, eu poderia ver o local.
Em todo o caso, no fim-de-semana anterior todos nos tivemos de mudar para outra residência, a 2 quarteirões de distância. Precisamente por cima do túnel onde rebentou outra das bombas.
Na quinta de manhã, quando fui com o Vitaliy buscar o Eduardo ao aeroporto da Portela, ouvimos a notícia de que tinha havido uma explosão em Londres, mas a primeira explicação de que tinha sido uma sobrecarga de energia no metro fez-nos desligar do assunto. Pouco depois, estávamos já os três na praia quando comecei a receber mensagens e telefonemas: mais explosões, mais mortos, o que se passa??
Quando a Mafalda, que conhecia o local, mandou uma mensagem a dizer que o autocarro tinha explodido na Tavistock Square, ficámos inquietos: nós morámos ali durante 9 meses!
Depois de vermos na televisão e na internet as imagens, não havia mais dúvidas. E aí veio uma nuvem de insegurança: e se um de nós, ou alguém conhecido, fosse a passar por ali naquele momento? Rapidamente conferimos que os poucos amigos que ainda estão em Londres estavam todos bem, graças a Deus.
Mas continua a ser uma sensação estranha ver o nosso mundo quotidiano manchado de sangue. Como pode a maldade humana chegar a este ponto?
De regresso a Londres, fui espreitar o lugar onde tudo se passou. Por todos os lados o acesso (e também o campo de visão) estava vedado. Uma das barreiras, que aqui mostro, era precisamente na nossa residência (o edifício que se vê por detrás do tapume).
Em toda a parte, aqui por perto, há fotografias dos desaparecidos com o apelo a quem os possa ter visto. E os jornalistas estão por todo o lado; em King's Cross, estive a assistir a um directo da CNN a 1 metro de distância do Jim Clancy.
Apesar de tudo, não encontrei nenhumas medidas apertadas de segurança, nem no aeroporto, nem no caminho até à residência.
De resto, a vida segue como antes: os autocarros vão cheios e as ruas transbordam de gente.
Os ingleses recusam-se a dar aos terroristas a vitória que pretendiam: o medo.
2 comentários:
Devo dizer k fikei emocionado a ler isto!
Eu cá para mim ficava caladinha no meu cantinho e nao dizia "We are not afraid". Para quê provocar as feras? isso do terrorismo tem muito de insanidade mental, e com malucos ninguém se deve meter. Acho que se deve fazer a vida normal, mas pedir sempre a PAZ!
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