quinta-feira, 30 de junho de 2005

Excelente!


O concerto dos U2 foi lindo! Valeu mesmo a pena ir a Cardiff!
Conseguimos ficar bem à frente, e mesmo ao pé de uma das plataformas que saíam do palco, por isso estivemos por 3 ou 4 vezes a 3 metros do Bono, como a fotografia o comprova.
Começou e terminou com "Vertigo" (Hello, hello - hola! - I´m at a place called Vertigo - donde esta?), rodou quase todo o novo álbum e também não faltaram os clássicos (One, With or Without You, Where the Streets Have No Name...). Bono dedicou ao seu pai "Sometimes You Can't Make It On Your Own" e dedicou uma outra música à resistente birmanesa Aung San Suu Kyi. O palco tinha grande impacto visual, mas não tanto como o da digressão Pop, em que cada música era acompanhada por uma sequência de imagens alusivas. As referências ao combate à pobreza e à coexistência pacífica entre religiões foram muitas. No total, foram 2 horas e meia de música do melhor e o público sempre a vibrar!

O grupo que se juntou para o concerto foi o mesmo de Paris, e sempre com o mesmo espírito. O sexto elemento é a Rocio, também colombiana. Ficámos a vaguear pela cidade até às 6 da manhã, hora do primeiro autocarro para Londres. Fui com o Roberto conhecer a baía de Cardiff (40 minutos a pé), enquanto que os restantes ficaram sentados na porta do castelo e travaram conhecimento com boa parte dos bêbados e malucos da cidade.

terça-feira, 28 de junho de 2005

U2


Daqui a 24 horas estarei em Cardiff para assistir ao concerto dos U2. Já que não posso estar em Alvalade a 14 de Agosto... Vou com o Eduardo, o Roberto e mais três colombianos. Já estou com aquela excitação que precede os grandes eventos!
Sempre fui um apreciador moderado dos U2: gostava das músicas conhecidas mas praticamente não conhecia as outras. Mesmo depois de assistir em Lisboa ao concerto de 1997.
Mas fiquei rendido com este último álbum, onde quase todas as músicas são muito boas. As letras merecem ser ouvidas com atenção, e se tiverem oportunidade vejam este site que explica o significado de algumas delas. Por exemplo, que a belíssima "Sometimes You Can't Make It On Your Own" foi escrita pelo Bono quando o seu pai morreu.
Também admiro a militância de Bono pelas boas causas, como a paz e o perdão da dívida aos países mais pobres. Segundo consta, as gravações do último álbum foram interrompidas algumas vezes por telefonemas do Vaticano, com João Paulo II a querer trocar impressões sobre a campanha pelo perdão da dívida.
Aliás, como a maioria dos irlandeses, Bono cresceu como católico; não se pode dizer que se tenha tornado um católico muito ortodoxo, mas é sem dúvida um crente e não deixa de o exprimir nas suas músicas. Veja-se, por exemplo, a canção Yahweh:
Take this soul / Stranded in some skin and bones
Take this soul / And make it sing
Um episódio divertido passou-se numa visita que os U2 fizeram ao Papa há 6 anos. João Paulo II fitava Bono e o artista pensou que ele estivesse incomodado com os seus extravagantes óculos escuros, e tirou-os. O Papa ficou então a olhar para os óculos na sua mão, e Bono resolveu oferecê-los, em troca do terço que o Papa lhe dera. Então, o Papa não só os pôs na cara, como ainda fez um sorriso atrevido, como se estivesse a encarnar a personagem. Lindo!

Orgulho nacional II


Ok, eu sei que não sou brasileiro, mas sempre que saía à rua, na fresca primavera de Londres, de calções e T-shirt, os meus amigos gozavam: "Tu achas que estás no Brasil!!"
Mas sinto-me igualmente orgulhoso por ver florescer as Havaianas aqui em terras de Sua Majestade. E não estou a falar de qualquer "chinelo de enfiar o dedo", que esses há aos milhares, mas sim das "legítimas" Havaianas que são fabricadas no Brasil desde 1962.
Aqui em Londres, vendem-se nas melhores lojas de ténis fashion e custam 20£ (o equivalente a 10 pares no Brasil!). No mercado de Camden, encontram-se a 15£. E nos últimos dias tenho contado sempre mais de 10 exemplares em cada passeio que dou pela cidade, sendo que a biblioteca da LSE é um dos terrenos mais povoados.
As vantagens de as usar são óbvias: é tão fresco como andar descalço, e dá uma imagem mais descontraída, sobretudo agora que entraram na moda entre os betinhos e já se podem usar sem complexos.
Eu sempre achei, e mantenho, que os pés não são a parte mais estética (os meus em particular), mas já não me importo. Converti-me ao prazer das Havaianas nas duas idas ao Brasil em 2003, e com os meus amigos Palma e Ascensão fundei a "Irmandade das Havaianas". Continuo a cravar um novo par a cada amigo que vá ao Brasil.
E, escusado será dizer, neste momento em que escrevo estou a usar...

Orgulho nacional


É sempre um motivo de orgulho ver os nossos produtos terem o destaque que merecem!
No Harrods estavam a fazer uma campanha de produtos portugueses e eu tive de ir espreitar. Vi lá uma grande variedade de queijos, azeite, vinhos e até garrafas de Sagres e Super Bock!
E como no Harrods os empregados têm no crachat as línguas que falam e há vários a falar português, estou a ver um tuga mais espontâneo chegar-se a um e pedir: "Ó fachavor, era uma mine!"

London moments


Acredito que uma pessoa que não goste de confusão (o que não é o meu caso) se possa fartar de Londres. Mas pelo menos é difícil uma pessoa queixar-se de monotonia aqui.
Na sexta passada fui assistir a um concerto de piano (grátis) numa igreja à hora de almoço. Uma pianista japonesa e algumas peças do seu país, tudo bonito, mas claro que passei um bocado pelas brasas... Quando saí para a Trafalgar Square, estava muita gente a gozar o sol, alguns a assistir aos jogos de Wimbledon por um ecran gigante e muitas crianças a participar em jogos relacionados com o ténis que por ali estavam montados. E o Big Ben a espreitar lá ao fundo!

Ontem, quando ia ter com a minha sobrinha, sentado no primeiro banco do andar de cima do autocarro, passou-se a cena que aqui podem ver: um polícia a mandar parar os carros para os guardas a cavalo atravessarem a estrada. Muito giro!


Finalmente, ao fim da tarde, e já que ficava em caminho, fui dar uma espreitadela aos saldos do Harrods que começavam ontem. Claro que mesmo em saldos é difícil encontrar alguma coisa barata, e mais difícil ainda é circular pelo andar de baixo, mas dar um passeio por este armazém onde se vende tudo (até elefantes!*) é sempre uma overdose visual para quem acha graça a essas coisas.

*Segundo reza a história, certo dia um cliente dirigiu-se a um dos empregados da loja e disse que queria comprar um elefante, ao que o empregado retorquiu com toda a naturalidade: "Quer africano ou indiano?"

Tio babado


Ontem fui passar o dia com a minha sobrinha e afilhada Isabelinha, que está a passar uma semana aqui com o colégio.
Visitei com eles o Museu de História Natural e o Museu da Ciência, fez-me lembrar um pouco os tempos da colónia de férias da C.M. Lisboa ou Roda Viva.
E foi muito bom ter um momento familiar aqui em Londres!

quinta-feira, 23 de junho de 2005

Cambridge


Ontem foi dia de passeio. Fui a Cambridge com o Leopoldo, o Vitaliy, a Natalia, o Juan e o Roberto (da esquerda para a direita na foto).
Encontrei-me com dois amigos que estão a terminar os estudos em Cambridge: a Ana Sofia, que estudou Direito comigo, e o André, irmão do meu melhor amigo de infância. Eles guiaram-nos por aquela cidade tão cheia de história (e de calor também!), enquanto aproveitávamos para pôr a conversa em dia. Como eu já ali tinha estado no Verão passado, pude passear sem aquela pressão de querer conhecer tudo.
Estava lá também o Duque de Edinburgo (o marido bronco da Rainha), mas não sei porquê não nos convidou para o chá...

Aqui a organização é completamente diferente, muito mais parecido com Hoghwarts: enquanto em Londres cada College é uma faculdade diferente, em Cambridge os vários Colleges são o lugar onde cada um vive e "pertence" (assim tipo Gryffindor), mas depois todos se misturam para ter aulas na University of Cambridge. E em cada College há quase todas as semanas jantares formais onde todos se vestem "à Harry Potter". Só não consegui encontrar ninguém a jogar Quidditch!
Para terminar o dia em beleza, ainda passámos num parque de diversões, e eu fui andar numa dessas coisas que nos põem às voltas no ar. Se carregarem na foto, podem ver melhor a minha cara de pânico. O meu medo das alturas é directamente proporcional à minha vontade de o pôr à prova!

Teste de personalidade



Your #1 Match: ENFJ




The Giver

You strive to maintain harmony in relationships, and usually succeed.
Articulate and enthusiastic, you are good at making personal connections.
Sometimes you idealize relationships too much - and end up being let down.
You find the most energy and comfort in social situations ... where you shine.

You would make a good writer, human resources director, or psychologist.


terça-feira, 21 de junho de 2005

A última festa de Passfield



No sábado passado, numa bela tarde de Verão antecipado, montaram no jardim um castelo insuflável, óptimo para saltar, e um touro mecânico. Eu nunca tinha experimentado antes e aguentei-me 42 segundos, mas não posso dizer que a dificuldade fosse tão grande como os que costumamos ver nas feiras...



No refeitório serviram carnes e saladas várias, enquanto que cá fora faziam o churrasco. Sempre com boa música de fundo. Houve ainda umas rifas: o Leopoldo ganhou a primeira trilogia de Star Wars, a Mafalda ficou com uma agenda de viagem e eu fiquei apenas com 2 pins da LSE.



O momento alto da tarde foi a entrega dos Passfield Awards: o/a mais giro/a, o/a mais bem vestido/a, o mais amigo, o mais divertido; o mais provável de vir a ser uma celebridade, milionário ou presidente do seu país. Eu estava nomeado (ou seja, entre os mais votados) para Karaoke King, mas afinal não ganhei.
O prémio mais sentido foi "Passfield não seria o mesmo sem...", ganho pela Rose, a filipina que nos serve o pequeno-almoço e o jantar quase todos os dias. Que no fim anda a distribuir pelas mesas o que sobra, e que nos diz "up your ass" quando é altura de irmos entregar as bandejas.



A festa seguiu depois num bar aqui perto, infelizmente sem dança, e no final regressámos todos para a cavaqueira no jardim, até os vizinhos se começarem a queixar.

Se este ano passou tão bem, em boa parte devo-o ao óptimo ambiente que vivi nesta residência.
E se John Kennedy e Mick Jagger, dois ex-residentes da casa, chegaram onde chegaram, nunca se sabe onde Passfield me pode levar!

Chegou o Verão!


Calor!!!
Aqui tem estado um calor terrível! O meu quarto recebe o sol directamente toda a manhã, e o pior é que nas últimas duas noites a temperatura continuava perto dos 30ºC! E como não há corrente de ar possível, apesar de eu estar quase sempre com a porta do quarto aberta, estou a desesperar...
De resto, Londres está inundada de Havaianas e os parques cheios de gente! E agora que já passou a hora de mais calor, vou também passear as minhas Havaianas até ao parque!

Olá!



Ó pra eles, os meus amigos recém-casados!
No sábado passado, a Isabel e o Pedro juntaram na sua casa (provisória, que a definitiva ainda vai para obras) os amigos que estavam no casamento... menos eu...
Tive muita pena de não poder estar no seu primeiro evento social depois de casados, mas a Mafalda e a Joana fizeram o favor de me mandar fotografias e comentários. Ao que parece, sabem receber muito bem! E nesta fotografia, como nas outras, gostei muito de ver o seu sorriso rasgado de alegria.
Espero que o evento se possa repetir daqui a uns dias, quando eu aí estiver!

Festa colombiana



Não haja dúvida que os colombianos são danados para a parranda, isto é, para a festa! Conseguem dançar horas e horas, num espaço exíguo e com uma temperatura muito acima do aceitável.
Na sexta passada, reservaram a cave de um bar para fazer uma festa, e eu não podia faltar. Com os amigos de sempre, mais alguns que conheci então, dançámos ao som de Shakira, Juanes e muitos outros êxitos daquele país.
Estas festas vão deixar saudades...

Visita



No último fim-de-semana tive ainda a alegria da visita da Mafalda Resende, vinda directamente da Dinamarca.
Foi bom voltar a sentir a conversa fluir abundantemente, tal como projecto de Montes Claros, em que éramos sempre os últimos a ir deitar-nos.
Mostrei-lhe a faculdade e a residência, e ainda assistimos a um espectáculo de rua em Covent Garden*. E no sábado veio cá à festa de Verão de Passfield, com a Ana Magalhães e outra amiga.
Pelo que percebi, a vida em Copenhaga vai bem e o início do doutoramento em Biologia/malária é o novo desafio há tanto aguardado.
Boa sorte, Mafles! E espero em breve ir-te visitar também.

*Para os meninos da viagem do Verão passado: foi o mesmo que vimos em Edinburgo, vestido com uma capa ridícula e a fazer habilidades num monociclo gigante. Claro que algumas das piadas eram repetidas...

Coreano



Tentámos ir a um restaurante português, mas estava fechado. Por insistência da minha colega, acabámos por ir a um restaurante coreano, onde pude provar a comida mais aborrecida de sempre!
Eu gosto muito de comida chinesa, também gostei de me estrear este ano na gastronomia tailandesa e mesmo na japonesa, não sendo tão do meu agrado, consigo encontrar alguma piada.
Já tinha falado algumas vezes com esta amiga coreana sobre comida (é um dos temas predominantes no intercâmbio cultural), e de facto ela dizia sempre que no seu país era tudo muito saudável, tudo cozido e com muitos vegetais, nada comparado com a overdose de fritos que os ingleses nos dão.
O resultado está à vista na fotografia: uma espécie de canja com uns pedaços escassos de carne, um arroz insosso e à sobremesa uma talhada mínima de melancia - nem sequer havia lista de doces!
O que me valeu foi que antes do jantar me tinha encharcado (graças aos meus colegas ingleses e americanos, paladinos da comida de plástico) em snacks vários.
E viva o cozido à portuguesa!!

Livre!


Finalmente acabei os exames!!!
No meio da vaga de calor que está por aqui, foi difícil arranjar motivação para estudar para o último. Mas agora já está!!
Depois do exame, umas bejecas na faculdade e um picnic no parque com toda a turma, e depois fui jantar com a Pauline de Hong-Kong (na foto) e a MiYoung da Coreia a um restaurante coreano. E assim se fez a festa!
Agora, e até ir passar uns dias a Portugal (1 a 11 de Julho), só tenho de adiantar (nas calmas!) o trabalho final e passear muito (amanhã vou a Cambridge). Para a semana vou ao concerto dos U2 a Cardiff e também me vou encontrar com a minha sobrinha Isabelinha, que vem a Londres com o colégio.

sexta-feira, 17 de junho de 2005

Padre Rogério

A propósito desta conversa, lembrei-me do Padre Roger. Foi um padre que conheci quando comecei a ir para a Serra Algarvia com o MSV, há 4 anos atrás. Um missionário belga, que passou muitos anos em Moçambique, e terminou os seus anos a servir o povo de Martinlongo e Vaqueiros. Aliás, quando lhe foi diagnosticado um cancro grave, preferiu ficar junto deste povo, onde hoje está sepultado, do que ir tratar-se (com mais hipótese de sucesso, presume-se) para a Bélgica. Um exemplo para todos os que o conheceram.
Nos vários fins-de-semana que fui a Martinlongo, no já longínquo 2001, com a Madalena, o Diogo e o Bruno, tivemos o privilégio de partilhar as refeições com ele e de ouvir as suas histórias, sobretudo sobre África, que não raro me deixavam no limite da comoção.
Uma das histórias que não vou esquecer começou em Moçambique. O Pe. Roger estava lá em missão durante a guerra colonial e a dada altura não conteve mais a indignação e falou contra o regime da metrópole. Quando se soube, foi preso pela PIDE, e depois de esperar várias horas, sem comer nem beber, foi interrogado por um agente. Cheio de sede, pediu se lhe podia dar uma cerveja, e claro que isso lhe foi recusado - um dos métodos em voga nesse tempo era precisamente a tortura da sede. O episódio terminou com a expulsão do Pe. Roger de Moçambique; depois passou alguns anos no Malawi, até ser atacado pela malária.
Passados uns bons anos, Portugal já era uma democracia e o Pe. Roger era pároco na serra algarvia. Um dia, em Faro, uma senhora vai ter com ele. Era a mulher do agente da PIDE que o tinha interrogado: "sabe, padre, o meu marido já o tem visto aqui na rua e queria muito falar-lhe e pedir-lhe desculpa pelo que lhe fez, mas tem muita vergonha de ir ter consigo." E convidou-o para ir lá a casa um dia jantar, sem o marido saber.
Nesse dia, o Pe. Roger toca à porta e o ex-agente vem abrir. Fica sem palavras. E o Padre mostra-lhe umas cervejas que tinha levado: "Trouxe para todos! Agora dá cá um abraço!"
E aqui está uma das coisas mais profundas (e difíceis!) de ser cristão: saber perdoar.

Camaradas II

Assustado com a acusação de ter dito bem do Cunhal, voltei a ler o post. Demoro tanto tempo a escrevê-los e releio-os tantas vezes com medo de dizer alguma que não quero, mas às vezes podia ter acontecido...
Mas não. Não tenho nenhum elogio a fazer ao homem, nem às ideias que tentou impor ao país, mesmo depois das eleições de 75 lhe terem dado um resultado muito abaixo do que esperava. Cresci, como muitos dos que me lêem, habituado a vê-lo entre os papões da política, e não é por ele ter morrido que vou mudar de opinião.
A única coisa que disse foi que a sua simplicidade me impressionou (na mesma linha do que escreve hoje Luís Delgado no DN). Referia-me apenas ao facto de não lhe serem conhecidos quaisquer sinais de riqueza. Ao contrário de muitos, que legítima ou ilegitimamente enriquecem com a política, não me parece ter sido o caso do Cunhal. Ele e Salazar competem em duas características aparentemente opostas: obstinação e humildade.
No entanto, não deixo também de lembrar que enquanto outros estavam no "exílio", os comunistas ficaram no país a fazer oposição, e muitos foram presos e torturados por motivos políticos. É certo que eles seguiam um regime com um curriculum de prisões e mortes incomparavelmente mais negro. Mas no nosso Portugal, foi a minha direita (sociologicamente falando), em nome de muitos dos meus valores morais, que fez uso da polícia política e da tortura. E não haja dúvida que os comunistas foram os que mais sofreram com isso. Cunhal, por exemplo, esteve preso durante 11 anos. E reconheço-lhe a honra de nunca ter denunciado nenhum camarada.
Mas o que me levou ontem a escrever sobre isto foi apenas algum incómodo com os exageros de ambas as partes: a santificação e a diabolização do homem. Já passou tempo suficiente desde o 25 de Abril para que não tenhamos de andar a medir quem foi pior, se os exageros do salazarismo ou os do PREC. Não quero com isto dizer que tudo seja relativo e que não se possa discutir o assunto, ou que não se possa gozar com isso, até porque hoje temos a sorte de viver em democracia (ao contrário desses tempos). Mas o que importa mais discutir são as ideias e os problemas de hoje, e para isso precisamos do contributo de todos, direita e esquerda. Com galhardia mas sem ódios.

quinta-feira, 16 de junho de 2005

Camaradas

Fui educado em valores opostos ao comunismo.
Não acredito na luta de classes, muito menos acredito que todos os patrões sejam maus e todos os trabalhadores sejam bons. Não acredito que a propriedade colectiva seja a solução para os males da sociedade.
Condeno o totalitarismo da União Soviética, da Coreia do Norte, de Cuba e de tantos outros lados, e os milhões de mortos e de presos políticos. Condeno-lhes a tentativa de "abafar" Deus na sociedade. Acho que a excessiva regulamentação das leis de trabalho, em última análise, acaba por prejudicar os trabalhadores, e discordo absolutamente que as drogas e o aborto devam ser legalizados.
Tenho aversão visceral à foice e ao martelo, e embirração particular pela imagem esterotipada do jovem de T-shirt do Che, mochila da tropa e lenço palestiniano (da mesma maneira que lhes deve irritar o igualmente padronizado look betinho). Nunca fui, nem conto ir, à Festa do Avante. E até hoje sempre votei no PP.
Os meus avós e boa parte dos tios maternos sempre viveram felizes e contentes com o regime salazarista, mas ninguém na minha família teve a vida ou a propriedade ameaçada depois do 25 de Abril; reconheço que para quem passou por essa situação seja mais difícil aceitar alguma bondade do outro lado.
Mas não posso deixar de lembrar a quantidade de comunistas presos e torturados pela PIDE, e a morte de alguns (não tantos, mas alguns). Da mesma maneira que não posso deixar de lembrar a sua tentativa de transformar Portugal numa ditadura comunista depois do 25 de Abril, de "educar" as populações e de sanear os que não eram de outra cor política. Nem consigo compreender as tentativas recentes de branquear a ditadura coreana, ou até mesmo o estalinismo!, nas páginas do Avante.
Mas apesar de tudo, acredito nas boas intenções dos comunistas. O meu amigo Zé Maria, convicto militante, é uma das pessoas mais puras que conheço e já me deu grandes exemplos na vida.
Acredito que a preocupação dos comunistas pelas classes mais pobres é genuína e partilho o sonho de um dia atingirmos uma sociedade mais justa, onde o sol possa brilhar para todos. Afinal, a Doutrina Social da Igreja tem igualmente como príncípio fundamental a preferência pelos mais pobres.
Tenho boa impressão da maioria dos políticos comunistas, não me parece que façam da política um meio para atingirem riqueza ou prestígio pessoal, como tantos outros.
Tudo isto para dizer que não serei nunca um admirador de Cunhal, por discordar das suas ideias e das suas tentativas de as pôr em prática no nosso país, mas que lhe reconheço (e aos seus seguidores) uma simplicidade na forma de viver que me impressiona. Tal como me impressionou a homenagem que lhe prestou tanta gente ontem, no seu funeral*.
Um dia após a morte de Cunhal, quando eu trocava algumas mensagens maldosas com os meus pais, do género "O Pai que não se esqueça da gravata preta amanhã", recebi a seguinte resposta da minha Mãe: "O Evangelho de hoje dizia para amarmos os nossos inimigos. Perdi a vontade de brincar com o Cunhal."
E se até o Papa foi de coração aberto a Cuba, acho que a nossa preocupação deve ser criar pontes (sem cedências que nos descaracterizem) e não criar mais desentendimentos.

*Uma private para os puristas da linguagem bem: também se deve dizer enterro quando a pessoa é cremada?

domingo, 12 de junho de 2005

Santo António


O que me apetecia estar aí!
Seguir a multidão, calcorrear Alfama e subir ao Castelo, comer febras (não gosto de sardinhas) e beber sangria, e sobretudo encontrar muita gente (ou pelo menos os 2 ou 3 que não foram de fim-de-semana).
A nossa Lisboa é um espanto, e mais ainda quando se veste de festa!

sexta-feira, 10 de junho de 2005

Viva Portugal!


No meio do estudo, tambem há que celebrar o dia da nossa Pátria!
Tinha-me lembrado de manhã, quando pensei "feriado em Portugal e eu a ir para um exame...", e por aí tinha ficado o meu patriotismo.
Mas a meio da tarde, quando estava na biblioteca, recebi um telefonema de Montes Claros: a Rita, a Zezinha e o Jorge, com o hino nacional em fundo e a bandeira hasteada no quintal, a partilharem comigo a alegria de sermos emigrantes orgulhosos das origens lusitanas. E de facto é um orgulho ser português!
Viva o fado e o bailarico, a sardinha assada e o galo de Barcelos, o vinho e o chouriço, os ovos moles! Viva o Viriato e D. Afonso Henriques, Vasco da Gama e Pedro Álvares Cabral, Nossa Senhora de Fátima, Soares e Cavaco! Viva Camões e Bocage, Garrett e Florbela, Pessoa e Sophia! Viva o Figo e o Mourinho, e já agora o Scolari, o Eusébio e a Amália, a Mariza e o Durão, e todos os que continuam a pôr o nome do nosso país nas bocas do mundo.
Por isso, aqui deixo as minhas saudações a todos os compatriotas, em especial aos que estão fora do país!

O descanso dos guerreiros


...e depois do exame, que tal um almoço no parque?
Uma salada comprada no supermercado (e uma Fanta tutti-fruti!) e assim aderimos ao tão agradável hábito que aqui têm de comer na relva, num parque que fica mesmo por trás da Faculdade. As colegas são a Eleni, inglesa de ascendência cipriota, a Mi Young, coreana, e a Pauline, de Hong Kong. E foi bom falar de outras coisas...

Meio caminho andado!

Hoje de manhã fiz o terceiro exame, desta vez sobre exclusão social. À partida pode-vos parecer um tema um bocado deprimente, mas acho que foi a disciplina que eu gostei mais. Por ser mais prática, ou seja, reflectir sobre problemas específicos e mostrar as últimas soluções tentadas em vários países.
No exame, as duas perguntas a que respondi eram sobre os efeitos da pobreza infantil na vida futura e como regenerar um bairro desfavorecido. Desta vez tinha preparado esquemas de resposta, por isso consegui escrever tudo de uma maneira bem directa (straightforward, como eles gostam de dizer aqui): qual é o problema, quais as causas, qual o impacto (tudo com muitas estatísticas, que aqui se usam para tudo) e quais os possíveis "remédios". E pude usar bons exemplos, em especial sobre o Brasil, como a Bolsa Escola (subsídio aos pais para que a criança vá à escola*), a Pastoral da Criança (acompanhamento de crianças subnutridas, em que participei quando estive em Montes Claros com o MSV) ou o sistema de transportes de Curitiba (claro que me lembrei de ti, Vasco!). Os professores pedem sempre que lhes falemos de alguma coisa nova nos exames, para que não adormecam a corrigi-los, por isso fiz esse esforço.
Ainda não estou 100% bem enquadrado com o tempo, mas eles são compreensivos se deixarmos o final da resposta, em caso de falta de tempo, em tópicos.
Mas depois deste bom resultado sinto-me um bocado mais animado! O problema é que ainda faltam outros 3 exames, e a vontade de estudar é cada vez mais pequena...

* Até usei uma história que o Leopoldo me tinha contado ontem ao jantar, para exemplicar que os programas às vezes não são bem percebidos pelos destinatários. O patrão dele tinha uma fazenda no interior do Brasil e abriu nela uma escola, que pôs gratuitamente ao serviço das crianças da zona. Passados uns tempos, apareceu-lhe um pai a dizer que tinha ouvido que o Governo estava a dar dinheiro por as crianças estarem na escola. O senhor explicou-lhe que aquela era uma escola particular e as regras eram diferentes, mas nada: "se não me der o dinheiro, a minha filha não vem mais à escola!" E não foi.

terça-feira, 7 de junho de 2005

Menos dois

Tem sido impossível escrever. Isto de ter seis exames em 2 semanas é obra! E se já seria difícil em português, mais ainda em inglês. Entre ontem e hoje "despachei" as políticas de saúde e os "fundamentos" da política social. Segue-se exclusão social na sexta.
Tenho continuado quase todo o tempo na biblioteca. Agora já sem sequer ligar o Messenger. Ontem fiquei até às 4h30 da manhã (estava mesmo apertado), mas o mais comum é sair pela meia-noite. O pequeno-almoço e o jantar na residência são os momentos para descontrair um pouco, apesar de as conversas mais frequentes serem sobre os exames que cada um teve ou vai ter.
Os exames são de 2 horas, para responder a 2 perguntas que posso escolher de entre 7. A resposta é um pequeno ensaio, que se quer coerente, crítico e bem estruturado; mas eu demoro um bocado a escrever e não tem sido fácil incluir tudo o que queria. Mas não correram mal, antes pelo contrário, acho que pus tudo o que era importante, apenas sem brilhantismo. E não vale a pena criar muita expectativa, porque é muito difícil tirar uma boa nota. De qualquer forma, as notas só vão sair no fim de Novembro, nessa altura espero já estar a trabalhar... O mais importante é que agora vejo que aprendi bastante este ano!
Espero voltar a escrever aqui coisas mais interessantes daqui a 13 dias, quando me livrar desta pressão...

Pelo meio, tive o prazer de tomar um café aqui na faculdade com a Maria Dória, que veio cá passar o fim-de-semana. Pena não dar para estarmos mais tempo.
O Ibrahim volta para Istambul depois de amanhã e vai deixar saudades por cá. É o primeiro sinal que os dias de Londres estão a entrar na recta final.