Camaradas II
Assustado com a acusação de ter dito bem do Cunhal, voltei a ler o post. Demoro tanto tempo a escrevê-los e releio-os tantas vezes com medo de dizer alguma que não quero, mas às vezes podia ter acontecido...
Mas não. Não tenho nenhum elogio a fazer ao homem, nem às ideias que tentou impor ao país, mesmo depois das eleições de 75 lhe terem dado um resultado muito abaixo do que esperava. Cresci, como muitos dos que me lêem, habituado a vê-lo entre os papões da política, e não é por ele ter morrido que vou mudar de opinião.
A única coisa que disse foi que a sua simplicidade me impressionou (na mesma linha do que escreve hoje Luís Delgado no DN). Referia-me apenas ao facto de não lhe serem conhecidos quaisquer sinais de riqueza. Ao contrário de muitos, que legítima ou ilegitimamente enriquecem com a política, não me parece ter sido o caso do Cunhal. Ele e Salazar competem em duas características aparentemente opostas: obstinação e humildade.
No entanto, não deixo também de lembrar que enquanto outros estavam no "exílio", os comunistas ficaram no país a fazer oposição, e muitos foram presos e torturados por motivos políticos. É certo que eles seguiam um regime com um curriculum de prisões e mortes incomparavelmente mais negro. Mas no nosso Portugal, foi a minha direita (sociologicamente falando), em nome de muitos dos meus valores morais, que fez uso da polícia política e da tortura. E não haja dúvida que os comunistas foram os que mais sofreram com isso. Cunhal, por exemplo, esteve preso durante 11 anos. E reconheço-lhe a honra de nunca ter denunciado nenhum camarada.
Mas o que me levou ontem a escrever sobre isto foi apenas algum incómodo com os exageros de ambas as partes: a santificação e a diabolização do homem. Já passou tempo suficiente desde o 25 de Abril para que não tenhamos de andar a medir quem foi pior, se os exageros do salazarismo ou os do PREC. Não quero com isto dizer que tudo seja relativo e que não se possa discutir o assunto, ou que não se possa gozar com isso, até porque hoje temos a sorte de viver em democracia (ao contrário desses tempos). Mas o que importa mais discutir são as ideias e os problemas de hoje, e para isso precisamos do contributo de todos, direita e esquerda. Com galhardia mas sem ódios.
2 comentários:
"Mas apesar de tudo, acredito nas boas intenções dos comunistas. (...)
Acredito que a preocupação dos comunistas pelas classes mais pobres é genuína e partilho o sonho de um dia atingirmos uma sociedade mais justa, onde o sol possa brilhar para todos. Afinal, a Doutrina Social da Igreja tem igualmente como príncípio fundamental a preferência pelos mais pobres.
Tenho boa impressão da maioria dos políticos comunistas, não me parece que façam da política um meio para atingirem riqueza ou prestígio pessoal, como tantos outros.
Tudo isto para dizer que não serei nunca um admirador de Cunhal, por discordar das suas ideias e das suas tentativas de as pôr em prática no nosso país, mas que lhe reconheço (e aos seus seguidores) uma simplicidade na forma de viver que me impressiona. Tal como me impressionou a homenagem que lhe prestou tanta gente ontem, no seu funeral."
Isto soa a elogio implícito, não?
E, pior ainda, comparas o comunismo à doutrina social da Igreja!!!!!!!!!!!! Onde isto vai parar?
E quanto a isso do Cunhal nunca ter denunciado um camarada, só não o fazia enquanto eram camaradas, quando decidiam deixar de o ser nem precisavam de ser denunciados porque levavam com um tiro na cabeça.
O GNR que o libertou da prisão, que o diga... Se os fantasmas falarem, claro!
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