No sábado passado tivemos uma experiência digna da Residência Espanhola. Tínhamos posto um anúncio num site a oferecer o quarto da Nayan, algumas pessoas mostraram-se interessadas e marcámos 5 visitas para sábado.
Isto de procurar flatmate é uma prática bastante comum para os europeus do Norte, mas para nós era uma absoluta novidade. Ao que parece, há gente que prepara meticulosas entrevistas para fazer aos candidatos, mas nós limitámo-nos a limpar a casa e esperar por eles.
O primeiro a chegar foi um holandês. Mostrámos-lhe a casa e depois sentámo-nos a tomar chá e conversar. Ele gostou do sítio e seria um bom candidato, mas como ainda faltava conhecer os outros ficámos de lhe dar a resposta mais tarde. Quando ele saiu, ficámos com a sensação de que era realmente estranho ter desconhecidos a vir pedir-nos "posso vir morar convosco?"...
A candidata vencedora veio logo depois. Para manter o suspense, deixo os seus dados para o final do post. Falámos com ela em espanhol, o que facilitou o "quebrar o gelo". Ela ficou encantada com a casa e disse que por ela ficava. Nós também achámos logo tínhamos encontrado a melhor pessoa, e dissemos-lhe isso, mas como já não tínhamos maneira de desmarcar as seguintes, prosseguimos com as visitas.
A partir daqui levámos a coisa mais na brincadeira. Veio uma espanhola, excessivamente maquilhada, com roupa formal e ar de enjoada. Felizmente não gostou do quarto, achou-o muito pequeno, por isso foi fácil despachá-la. Esperávamos depois uma francesa que não apareceu, melhor ainda.
Mas para o fim estava guardado o melhor. Vimos esta rapariga a aproximar-se do nosso edifício e dissemos "não pode ser para aqui". Mas era! Baixa e muito magra, cara muito pálida a contrastar com a pintura negra dos olhos e o casaco de cabedal preto que era maior que ela, uma saia também preta e uns All Star de xadrez. Era uma espécie de soft punk, e muito nos rimos depois a pensar como seria quando ela trouxesse os amigos lá para casa. Ok, somos preconceituosos, mas a situação prestava-se... Ela era super simpática e também ficou interessada na casa, por isso ficámos com alguma pena - acho que ela vai ter alguma dificuldade em encontrar lugar.
Mas dos 3 interessados havia uma que claramente assentava melhor, e que a partir de quinta-feira vai viver connosco. Chama-se Daniela, tem 25 anos e é mexicana. Está no segundo ano de um Master em Curating Contemporary Art (organização de exposições em museus) e passou o Verão a trabalhar no Brasil, por isso também fala português. Gostou da localização do nosso flat porque fica perto de um parque e ela vai correr todas as manhãs. E diga-se em abono da verdade, é gira!
Uma nova fase vai começar. Sangue novo, conversas novas, novos programas (espero receber uns convites para inaugurações, que eu gosto de borlas). E a casa estará certamente mais limpa e arrumada, e sobretudo livre do cheiro a curry e fritanga.