sábado, 31 de dezembro de 2005

Balanço do Ano

Em 2005, o país andou ocupado com várias eleições. Em Fevereiro, o (des)governo de Santana Lopes foi substituído pelo governo de Sócrates com maioria absoluta. Apesar disso, poucos meses depois as autárquicas deram a vitória ao PSD. E também aos autarcas corruptos... No PS, Soares e Alegre desentenderam-se e lutam agora pela cadeira de Presidente, que ao que tudo indica ficará para Cavaco.
António Guterres foi nomeado Alto Comissário para os Refugiados. A seca teve consequências graves na agricultura, e os incêndios voltaram a ser uma praga. Também de registar, as mortes da Irmã Lúcia e de Álvaro Cunhal, duas vidas completamente diferentes, com a única semelhança de ambas terem sido orientadas por acontecimentos ocorridos em 1917. Houve ainda o arrastão que afinal não foi, as torres de Tróias que foram abaixo e os 250 anos do terramoto.

No desporto, o Sporting "morreu na praia" na Taça UEFA, perdendo a final em Alvalade para o CSKA. O Benfica tirou a barriga de misérias e conquistou o título que lhe fugia há 11 anos. Mourinho triunfou na Liga inglesa, e prepara-se para repetir a dose nesta época. Portugal voltou a ter um corredor de Fórmula 1 (e logo um Tiago!), mas foram os espanhóis que cantaram vitória com Alonso. E o Dakar partiu de Lisboa!

No espectáculo, tivemos os concertos dos U2 e dos Coldplay, e recebemos a visita dos MTV Europe Music Awards. Nos tops, triunfaram James Blunt e os D'ZRT. No Porto, abriu finalmente a Casa da Música. Muitos artistas juntaram-se no Live8 em nome de uma economia global mais justa. Million Dollar Baby ganhou o óscar de melhor filme, mas nas bilheteiras triunfaram os pinguins, mais um Harry Potter e o último capítulo de Star Wars.

Lá fora, Carlos casou com Camilla e os gays passaram a poder "casar" em Espanha e Inglaterra. Tony Blair ganhou pela terceira vez as eleições e insistiu com as grandes potências para colocarem como prioridade da agenda o apoio aos países mais pobres. A Constituição Europeia ficou adiada. Lula sobreviveu ao "mensalão". Michael Jackson foi absolvido (será um prenúncio do processo Casa Pia?). Os motins em Paris alertaram mais uma vez para os problemas da emigração e do desemprego. Os israelitas deixaram a faixa de Gaza, mas os conflitos está longe de terminar. A gripe das aves pairou como ameaça global mas afinal não se revelou tão grave. Bem mais grave foi o Katrina, que destruiu New Orleans, e outros furacões que atacaram a América Central.

O sudoku tornou-se o desporto oficial dos transportes públicos, os iPods são o último brinquedo tecnológico e as séries televisivas inundaram as secções de DVDs das lojas. Na internet, os blogs cresceram como cogumelos, e aqui saúdo o nascimento dos blogs da Mafalda, das Joanas, da Ana Sofia, da Constança, e o Portugal No Mundo.

Queria destacar ainda duas notícias de 2005 que me tocaram particularmente. Primeiro, a morte de João Paulo II, um Papa que marcou a minha vida, e que recebeu no seu funeral a merecida homenagem dos líderes de todo o mundo e de milhões de pessoas que acorreram a Roma. Segundo, os atentados terroristas em Londres, muito perto do lugar onde eu vivia nessa altura; apesar de eu estar a gozar o sol da Caparica no fatídico 7 de Julho, regressei a tempo de assistir à exemplar resposta do povo londrino, que recusou render-se ao medo e continuou a sua vida de sempre.

A nível pessoal, foi um ano de conquistas. Depois da época de exames em que mais estudei na vida e do difícil parto da dissertação, acabei o Master com bons resultados e consegui um emprego, e assim prolonguei a minha aventura londrina; acho que tomei a decisão acertada. E passei do conforto (apertado) da residência para um apartamento onde os três temos de tratar de tudo, e até agora tem corrido tudo às mil maravilhas.
Em Londres, boas amizades nasceram ou cresceram. Com o Eduardo, que me tem acompanhado sempre, nos bons momentos (incluindo 3 visitas a Portugal!) e também nas minhas neuras. Com o Roberto e os colombianos (Juan, Catalina e Natalia), com quem fui conhecer Paris e que me acompanharam em várias festas (com vinho e queijo, pois claro!), sendo que a próxima vai ser em Bogotá. Com a Nayan, que agora vive comigo e com quem tenho tido muito boas conversas. Com a Ana Magalhães, que tenho conhecido muito melhor.
E as amizades de cá não ficaram a perder (acho eu, mas aceitam-se reclamações!). Ainda há poucos dias uma amiga me dizia que eu conseguia estar sempre presente nos momentos importantes. E graças ao MSN e ao Skype, consigo receber muitas novidades em primeira mão!
Há uma coisa que infelizmente não vou conseguir repetir em 2006: neste ano vim 9 vezes a Portugal, e tudo somado passei cá quase 3 meses! Não há nada como a vida de estudante...
Mas também foi muito bom receber a visita dos Pais, do meu irmão João, da Joana e da Sara, do João Raposo (que passou um mês na minha residência), do Diogo, do Ricardo, do Bruno e da Rita, do Rui, da Diana, da Mafalda, da Inês, da Francisca, da Joana e do Pedro.
Os momentos altos do ano foram o nascimento do meu sobrinho João, o casamento do Pedro e da Isabel, e o do Constante e da Cláudia, a viagem a Paris, os passeios a mostrar Portugal aos amigos estrangeiros, os concertos dos U2 em Cardiff e da Mariza em Londres. E, claro, o dia em que soube as notas do Master e o outro em que recebi o telefonema a dizer que tinha trabalho.
Em suma, foi um ano em cheio e só posso desejar que o seguinte não lhe fique atrás!

A terminar, queria agradecer-vos a todos, amigos e curiosos, por lerem este blog e me incentivarem a escrever. Era um sonho de sempre, e saber que tenho umas 50 visitas por dia é motivo de alegria!

Para todos, o desejo de que entremos em 2006 com optimismo e empenho, e já agora... que Portugal dê um pontapé na crise e ganhe o Mundial!

terça-feira, 27 de dezembro de 2005

O meu Natal

Eis-me de volta a casa. Acho que me senti pela primeira vez emigrante, a ir passar o Natal à terra. Trabalhei até ao dia 23 e vim nesse dia à noite, enquanto que no ano passado tinha vindo com 2 semanas de antecedência, por isso não deu para ter a mesma sensação. No entanto, tenho sempre a sensação de estar perto, muito perto...
Pela primeira vez andei em business class. Obviamente que não foi uma opção! Quando reservei os bilhetes em Outubro os mais baratos que havia custavam 75 contos, mas passar o Natal com a família vale bem esse dinheiro! Cheguei ao aeroporto mesmo em cima da hora e a fila para o check-in era enorme: "tás tramado", pensei. Pedi a ajuda a uma menina da British Airways (sim, pela primeira vez voei numa companhia decente) e ela disse-me para ir por um corredor para o check-in "premium". Aí não só não havia fila, como ainda nos ofereciam chocolates. Os lugares no avião não eram diferentes dos restantes, só havia uma cortina a separar-nos. Mas tive direito a rosbife, talheres de metal e a atenção constante das hospedeiras.
À chegada, foi difícil descobrir os meus pais, tal era a multidão no aeroporto. Foi o auge da sensação de emigrante a chegar!

A manhã do dia 24 foi passada a embrulhar os presentes, porque em Inglaterra nenhuma loja o faz (quem disse que lá é tudo melhor?). E seguiu-se o almoço de anos do Ricardo, que há vários anos faz parte da tradição.
Apesar de ter passado a última semana enfiado na Oxford Street e de trazido uma mala enorme completamente cheia de presentes, claro que me havia de faltar um, por isso lá estava eu no Fórum quase às 7 da tarde do dia 24. É sempre assim!
Cá em casa a noite de 24 é mais simples, porque a minha irmã vai para os sogros (logo, não há crianças) e o meu irmão tem de sair cedo para a Missa do Galo. Mas claro que é sempre um jantar mais especial (apesar de o bacalhau não ser o meu forte), com o João, os Pais e a Tia Mila.
O dia 25 foi mais intenso. Para começar, fomos à missa (na Moita, por ser dia de festa), para recordar o que verdadeiramente se celebra neste dia. Depois viemos almoçar, já com toda a família, o peru recheado e as infindáveis sobremesas. Como o João teve de voltar para as suas obrigações de pároco à tarde, a abertura das prendas ficou adiada até às 9 da noite, quando as crianças já estavam mais que impacientes.
Parece que escolhi bem os presentes: o massajador de pés para a Mãe, o atlas para o Pai, uma buzina para o João, livros para a Isabel e o Carlos... mas o que fez mais sucesso foi o boneco do Harry Potter que ofereci às sobrinhas. Ele faz levitar uma bola, aparecer fogo, desvendar códigos... simplesmente magia!
Eu também não me posso queixar do que me tocou: uma camisola, uma camisa, um polo, um perfume, o DVD do Gato Fedorento, uma assinatura do Expresso Online (!!), uma "agenda sudoku", um "porta-papéis e canetas" para o escritório, um conjunto de cremes e after-shave, vinho e queijo.
Mas este Natal teve um sabor especial, porque tivemos connosco o nosso Menino Jesus, a estrela do dia: o Janeco!!!


sexta-feira, 23 de dezembro de 2005

Desculpem

Peço desculpa por tão prolongada ausência... A verdade é que esta semana tem sido non-stop: festa de Natal da empresa, compras de Natal, últimos dias com os meus pais, compras de Natal, visita da Joana e do Pedro, compras de Natal, partida do Eduardo para o Chile e a minha partida dentro de umas horas para Lisboa.
Queria comentar estas coisas todas, mas o tempo é escasso. Deixo aqui umas fotografias e mais tarde completo o post, tá?

Esta é a minha secretária, junto à janela e com decoração de Natal!

Estes são alguns dos colegas do meu piso:
- o mais velho é o Chris, meu manager, muito simpático mas um bocadinho burgesso;
- o outro rapaz é o Stephen, que tem a mesma função que eu, muito simpático mas gay;
- a do cachecol de plumas é a Rebecca, que trata dos casos de "má vizinhança" e crime nos nossos bairros, muito simpática mas flatulenta (!);
- e a da direita é a Kate, que trata das taxas que cobramos aos clientes, muito simpática mas casada.
Agora vou para o trabalho, mas mais tarde (de Londres ou já de Lisboa!) escrevo mais.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2005

Harry Potter!

Hoje foi a minha graduation. Não quero traduzir por entrega de diplomas, porque a única coisa que fiz, depois de ouvir o discurso do director da Faculdade, foi subir ao palco, na minha vez, e apertar-lhe a mão. Nada de canudo...
Não foi tão giro como a entrega do meu diploma de Direito em Lisboa. Primeiro, porque, enquanto que em Lisboa estava rodeado de bons amigos, aqui tinha apenas alguns (poucos) colegas do meu curso. Os meus melhores amigos eram da residência, e todos esses ou já voltaram para as suas terras ou tiveram a sua cerimónia ontem.
Segundo, porque não houve um discurso de nenhum representante dos alunos tão inspirado como o do Luís, nem a actuação de uma banda de jazz em que entravam alguns professores.
Além disso, por muito prestigiada que seja a LSE e o seu director, é difícil igualar a Nova, que há 2 anos chamou para a ocasião o ex-presidente da Assembleia Geral da ONU e o futuro presidente da Comissão Europeia.
Nem quero sequer comparar os nossos salgadinhos e vinhos com as sandes deprimentes de pão de forma e vinho misturado com sumo de laranja que hoje nos serviram.
Mas claro que hoje foi um dia muito especial. Porque celebrámos o completar de uma meta, depois de algumas noites perdidas a escrever trabalhos e a estudar para os exames. Porque ter feito parte da LSE é motivo de orgulho e, muito mais que isso, proporcionou-me a experiência de beber de várias culturas. Porque os Pais vieram. Mas também - e esta parte dá-me uma particular satisfação - porque, como podem ver pelas fotos, me pude pavonear pelas ruas de Londres mascarado de Harry Potter!!!




domingo, 11 de dezembro de 2005

Passeio de domingo


A foto da praxe em Picadilly Circus

Depois o Render da Guarda

E seguiu-se o Green Park, o Hyde Park, a Oxford Street, o Covent Garden, a Trafalgar Square, a Wesminter Cathedral, o Big Ben, a Leicester Square e a Chinatown. Um fartote!
Ao fim da tarde fomos a uma missa em inglês, espanhol, brasileiro e cantonês (!).

Inês, esta é para ti!

No autocarro, hoje de manhã, entra uma senhora de 40 e picos carregada com sacos.
Ela: Chetop Oleborne Cheteichion? (leia-se bem sibilado)
Motorista: What?!?!
Ela (mais devagar, e em tom mais alto): Che-tope Ole-borne Che-tei-chion??
Motorista: Oh! Holborn Station! It's the next stop.
Ela: ???
Eu: É portuguesa?
Ela: Chou.
Eu: Ele tá a dizer que é já na próxima.
Ela: Ah... obrigado! Já tou cá há 2 anosh e falo um bocado de inglêsh, mash não tenho uma pronúnchia muito boa. Foi por icho que perchebeu?
Eu (mentindo): Não... Os portugueses topam-se bem pela cara!
Ela: De onde é?
Eu: Da Costa da Caparica.
Ela: Eu chou de Visheu!!!

sábado, 10 de dezembro de 2005

Primeiro passo: supermercado

Já cá estão!

Os meus pais já chegaram! Ficam cá até ao outro domingo, dia 18.
Pusemos a casa impecável para os receber! E parece que passámos no teste da primeira impressão.
É um bocado estranho receber os Pais como visita na minha casa, mas é muito bom! Para além do queijo, enchidos, utensílios de cozinha e o Expresso que nos trouxeram!
Não prometo escrever muito nos próximos dias, mas vou ter muitas fotografias para aqui deixar.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2005

10 anos

Tenho andado preguiçoso para escrever, mas hoje não podia deixar passar em claro esta efeméride.
Há 10 anos, neste dia de Nossa Senhora da Conceição, o meu irmão João foi ordenado padre. É verdade, pode ter cara de miúdo (como o outro do anúncio), mas já é padre há 10 anos!
Nesse tempo, já passou por Palmela, pelo Seixal e agora pela Moita, sempre com responsabilidades acrescidas.
A vida de padre não é fácil, sobretudo quando há que celebrar 5 ou 6 missas cada domingo (mais os casamentos e baptizados), ou quando a meio do dia de folga é chamado para ir fazer um funeral. Mas quem convive com o João sabe que ele é feliz na vocação que escolheu.
Eu tinha 8 anos quando ele entrou para o seminário. E segundo ele contou na primeira missa, o que mais lhe custou foi deixar o irmão pequenino. Mas claro que isso não foi impedimento a que mantivéssemos sempre uma cumplicidade muito grande.
Em criança, ficava atrapalhado quando me perguntavam porque é que o meu irmão "ia para padre", e se eu mais tarde queria ir também. Mas quando cresci rapidamente isso deixou de ser um tema sensível e, até hoje, sempre que me perguntam se tenho irmãos eu faço questão de realçar que o meu irmão é padre. É um orgulho muito grande quando um dos seus paroquianos vem ter connosco (pais e irmãos) para contar algum episódio onde ele teve um papel importante na sua vida, e isso acontece com alguma frequência. E é um orgulho vê-lo cativar as pessoas com as suas magias e malabarismos, os seus hobbies preferidos (além do futebol e da bicicleta), que são ao mesmo tempo forma de descontracção e um meio original de transmitir a mensagem cristã. E foi também uma emoção muito forte vê-lo baptizar os meus sobrinhos, fazer o funeral dos meus avós, ou casar o Pedro e a Isabel.
Aqui lhe deixo os meus desejos de que continue sempre fielmente dedicado a Quem o escolheu e aos que lhe vão sendo confiados. Dessa maneira, será sempre para mim um exemplo, que me incentiva a ser melhor. E de qualquer maneira - e só isso já é tanto!, é o meu irmão.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2005

Sem feriados

Dezembro é um bom mês para trabalhar em Portugal. Dois feriados logo ao início, que com sorte dão direito a ponte, e depois entra tudo em banho maria até ao Natal. Da última semana do mês nem se fala.
Aqui há muito poucos feriados no ano. Mas pelo que vos disse em posts anteriores, não me posso queixar das condições de trabalho. E pela minha parte, daqui até ao Natal vão ser tempos engraçados, com a visita dos meus pais e da Joana, a cerimónia de graduation e as compras de Natal. Só é chato anoitecer às 4h30 da tarde...

Voltando ao trabalho, já começo a perceber bem como funciona a habitação social aqui. Qualquer pessoa se pode inscrever na sua autarquia, e depois a sua situação é avaliada e acumula "pontos". Quantos mais "necessidades sociais" tiver, mais pontos tem, e mais sobe na lista de espera para casas sociais. Essas casas pertencem ou às autarquias ou às housing associations, como a minha. Mas tudo isto representa muitas centenas de milhares de casas, especialmente porque aqui as rendas privadas são muito caras.
Em suma, as pessoas que entram para as casas da Toynbeee, ou vêm da lista de espera das autarquias, ou são pessoas que já viviam em casas da associação e pediram para mudar (porque a família cresceu, ou diminuiu, ou porque têm problemas com a casa actual). E são todos pessoas com dificuldades: idosos, famílias pobres, sem-abrigo...
No próximo post conto-vos o que estou a fazer exactamente.