quarta-feira, 13 de dezembro de 2006

Memórias do Palácio Foz

Há 3 anos atrás estava a trabalhar num palácio. Nada mau para primeiro emprego, ir logo parar a um palácio, mais precisamente o Palácio Foz, nos Restauradores.
Tinha acabado o curso de Direito há pouco e sabia que não queria fazer o estágio. Depois de passar o Verão a fazer voluntariado no Brasil, tinha vindo com a ideia romântica de fazer um "gap year" entre voluntariado, cursos e actividades paralelas, um ou outro biscate para me aguentar, e muita meditação sobre a vida. Mas ao mesmo tempo estava em marcha a minha candidatura para Londres, e rapidamente me apercebi que não havia bolsa que me valesse e que por isso ia ter de me esmifrar para conseguir juntar o máximo de dinheiro possível.
Foi nessa altura que este trabalho me caiu do céu. Havia um pico de serviço na CCPJ, a comissão onde se passam as carteiras profissionais dos jornalistas, e precisavam de alguém para ajudar no trabalho burocrático. Cada tolo tem a sua mania e eu sempre gostei de papelada, por isso não foi sacrifício nenhum passar 3 meses a inserir dados no computador, arquivar pastas e registar a correspondência. Passaram-me pelas mãos os processos de várias figuras famosas, mas de longe o mais importante foi o da minha amiga Joana.
Tinha um gabinete pequenino, com uma secretária de madeira escura e pesada, um computador e várias pilhas de papéis. Ah, e mais importante que tudo: um carimbo! E enquanto que aí estava, quase sempre ia ouvindo música.
Outro factor que ajudava era a companhia: a Mara, a Sandra, a Marília e a Fátima - estava rodeado de mulheres! Dávamo-nos muito bem e havia sempre ocasião para uma piada ou dois dedos de conversa. Também iam passando por lá um juiz e alguns jornalistas séniores, porque havia processos deontológicos a decidir, e tinha piada ir ouvindo essas conversas também. E podia almoçar no bar dos funcionários por tuta e meia! Mas bom, bom, foi o almoço de Natal no Solar dos Presuntos!
Mas a cereja em cima do bolo era a localização. Além do excelente acesso de transportes, estava na zona mais bonita de Lisboa. A luz do sol reflectida nos prédios da Baixa é algo muito especial! E poder subir o Chiado na hora de almoço, ir ver lojas ou encontrar-me com algum amigo, era um verdadeiro privilégio. Espero um dia (em breve?) voltar a trabalhar para aqueles lados.
Não sei porque me lembrei disto hoje. Talvez porque era mais confortável - sempre a lei do menor esforço - inserir nomes e moradas num computador do que ter a meu cargo um "impact assessment" sobre "anti-social behaviour" (pode ser que explique o que é isto noutro post). Ou talvez porque já vou sonhando com o passeio que hei-de dar por essas bandas daqui a 2 semanas...

2 comentários:

nes disse...

já cá venho ao teu blog há uns meses, não se sei se algum dia fui ler o "início", mas tinha curiosidade em saber como é que foste parar a Londres! respondeste a algum anúncio de emprego? tenho curiosidade porque acho complicado responder, e depois entrevistas no estrangeiro... hehe mas conheço algumas pessoas em Londres através das bolsas Leonardo Da Vinci (apesar da bolsa em si não pagar nada).

Anónimo disse...

Isso de seres conta a despenalização do aborto não me espanta... És homem, e basta.

Fiquei mesmo surpreendida, porque sempre achei que uma pessoa com a tua experiência e abertura de espírito seria talvez melhor informada.

Pena.

De qualquer maneira, tem um Bom Natal. x