Durante 10 anos estudei música. Aprendi piano e teoria com a D. Judite, uma professora entusiasmada e exigente, que continuava a ensinar já na casa dos oitenta. Eu devo ter sido o seu último aluno, e no dia do seu funeral prometi que não ia deixar nunca a música.
Nesses anos todos de aulas, nunca consegui ganhar disciplina para me sentar todos os dias ao piano e estudar, e ao tocar faltava-me algum sentimento. Tens de arranjar uma namorada, dizia-me ela. Por sua insistência, ainda cheguei a fazer um exame no Conservatório, mas foi, juntamente com Processo Civil, a única coisa a que chumbei. Ainda assim, não me frustra tanto saber que não fui, nem virei a ser, um virtuoso do piano.
O que eu gostei mesmo foi de aprender a teoria da música, perceber a sucessão quase matemática, mas sempre aberta ao imprevisto, das harmonias. Reconhecer os sons, ler pautas, cantar afinado. Essa base tem-me sido preciosa para tirar acordes de ouvido para a guitarra e fazer vozes em coros ad-hoc para casamentos. E a isto se resumia a minha actividade musical até ontem.
A meio do Verão decidi procurar um coro. Era uma maneira de pôr a render esse talento e também de conhecer novas pessoas. O meu amigo Google deu-me várias hipóteses de escolha, mas a que mais me interessou foi
um coro que ensaiava a escassos metros de minha casa e que publicitava uma boa vida social entre os seus membros.
Ontem fui pela primeira vez a um ensaio, à experiência, e acho que é para ficar! Eram 15 a 20 pessoas, quase todos abaixo dos 40. Se aqui no emprego o que não faltam são caras feias, ali toda a gente tinha pinta: lavadinhos, bem vestidos e com caras sorridentes - e nem vestígios de uma miúda feita, eram todas giras!
Quando cheguei, estavam nos exercícios de aquecimento, não só vocais mas também físicos (ginástica e até massagens!). Como era o primeiro ensaio para o próximo concerto (em Novembro, acho), o director apresentou reportório e avisou logo que ia ser um bocado diferente dos clássicos habituais. Passou-nos para as mãos um livro de partituras dos Abba, e lá fomos nós: Money money money, Thank you for the music... Não é de longe um dos meus grupos favoritos, mas aquilo cantado a 4 vozes tem outra pinta! E para a semana vamos juntar a Bohemian Raphsody dos Queen, e até Britney Spears, ao reportório.
O único problema é que, enquanto que todos os outros são uns cromos e apanham as notas todas
à primeira, eu estava muito enferrujado e andei um bocado perdido, mas nada que não se resolva com a prática. E também não tenho o vozeirão de alguns que lá estavam, mas essa é a vantagem de um coro - não é preciso ser um às, desde que possa contribuir para o colectivo!
No intervalo serviram café e biscoitos, e no final fomos quase todos até ao pub - how British! De onde és?, o que fazes?, como descobriste este coro?, as apresentações habituais. E todos me acolheram muito bem.
Parece que foi uma escolha acertada, e com muito para explorar!