Como já dizia Serafim Saudade, a humanidade está dividida em duas partes. A parte 'A' são os "planeadores", nos quais me incluo; a parte 'B' são os "impulsivos".
Os planeadores gostam de saber com muita antecedência o que vão fazer. À segunda pensam como vai ser o próximo fim-de-semana, e em Janeiro já têm o plano das férias para o ano inteiro.
São tendencialmente pessoas mais práticas, mais do dia-a-dia, talvez um pouco menos sonhadoras.
Assim que surge a ideia de uma viagem ou concerto, não descansam enquanto não têm o bilhete na mão - para conseguirem o melhor preço ou os melhores lugares, e também para tirarem essa preocupação da cabeça. E depois ficam a contar os (muitos) dias até que a coisa aconteça, e a criar expectativas de como tudo vai ser.
Sabem sempre as datas de tudo, desde aniversários até ao dia da semana em que calha cada feriado. Gostam de assinalar as primeiras e últimas vezes de tudo, e vem-lhes facilmente à memória que "há 5 anos estava no lugar X com a pessoa Y".
Nos tempos de escola, esperavam ansiosamente pelo dia em que saíam os horários.
Por regra 'vão a todas', e até dizem que 'sim' a programas que nem lhes interessam muito, só para agradar aos amigos, e porque também gostam que os outros venham quando são eles a convidar.
Quando têm dois programas em conflito, por norma escolhem aquele com que se comprometeram primeiro, ou fazem das tripas coração para passar nos dois lados, ou ficam incomodados quando têm de inventar uma desculpa para falhar um.
Detestam ficar dependentes dos B para uma decisão, e fazem uma tempestade num copo de água quando os B dão o dito por não dito.
Os impulsivos não têm pachorra para muitos planos, preferem decidir no momento. E no momento fazem o que mais lhes apetece sem grandes constrangimentos.
Gostam de voar com o pensamento em grandes projectos e acham as pequenas coisas práticas uma perda de tempo. Precisam de um empurrão para passar de uma ideia gira à sua concretização prática.
Se é coisa que envolva bilhetes, esperam até ter a certeza absoluta de que podem e querem ir - ou até que alguém trate disso por eles.
Não ligam muito a datas especiais. Não é que não queiram saber dos outros, apenas vêem esses pequenos compromissos como pouco importantes. Preferem surpreender os amigos num dia normal.
Raramente respondem com um 'não' definitivo a alguma proposta, e o seu 'sim' é sempre provisório até ao último momento. Aí pode sempre aparecer outro programa, a preguiça ou até o esquecimento. No entanto, essas ausências transformam-se de alguma forma em vantagem: quando realmente aparecem em determinado programa, a sua presença é mais notada.
Detestam ser pressionados pelos A, e não se apercebem quando deixam os A ficar mal.
Claro que isto é uma descrição muito estereotipada (daí o título de psicologia barata) e todos nós somos um bocado de cada. Mas consigo pensar numa mão cheia de pessoas que encaixam bem em cada lado.
Também não estou a dizer que uns são melhores que os outros. Os planeadores são em geral bons amigos, ainda que chatos. Os impulsivos são mais descontraídos e por isso talvez disfrutem mais, ainda que por vezes desiludam outras pessoas.
Eu gostava de estar mais ao meio, ou pelo menos aprender a lidar melhor com os B.