Pelo Não - Prólogo
Começa amanhã a campanha para o referendo sobre o aborto.
É uma discussão que já cansa, mas não a posso evitar. Já li e reflecti muito sobre este assunto, e quero fazer o que esteja ao meu alcance para que a 11 de Fevereiro o Não possa vencer de novo. Vou por isso expor aqui no blogue, nos próximos dias, as minhas ideias sobre o que está em jogo. E faço-o sobretudo porque há de certeza um ou outro indeciso desse lado.
É um debate onde tenho uma posição clara e apaixonada, mas em que saberei estabelecer limites. Não duvido que de um lado e doutro haja boas intenções. Tenho vários amigos a votar Sim (mas muitos mais a votar Não!) e conheço quem já tenha abortado, por isso respeito bastante a posição contrária. Da mesma maneira que exijo respeito.
Também não acho que o aborto seja uma questão religiosa. É verdade que a Igreja Católica tem uma posição bem firme e tem todo o direito de a defender (sem os lamentáveis excessos de linguagem, que são excepções). Contudo, os meus argumentos para votar Não não envolvem os conceitos de Deus, alma ou pecado, e felizmente partilho o meu sentido de voto com vários não católicos.
Começo por assumir uma posição radical, mas coerente, nesta matéria: se numa gravidez estamos já perante a vida de um novo ser humano, abortar será sempre destruir a sua vida, ainda que se trate do fruto de uma violação ou de um deficiente. Mas sei que estou em minoria (em posição simétrica, os que acham que o aborto deve ser possível em qualquer momento da gravidez), e de qualquer maneira não é isto que está em jogo neste referendo. Trata-se apenas de saber se queremos que em Portugal o aborto possa ser feito a pedido da mulher, por qualquer razão, até às 10 semanas.
Isso implicaria não só a eliminação da pena de prisão prevista no Código Penal (despenalização), com o qual até posso concordar (em relação às mulheres, mas não aos homens que as forçaram a abortar, ou para aos médicos e parteiras que realizam os abortos). Implicaria também que o aborto até às 10 semanas deixaria por completo de ser crime (descriminalização) e que qualquer mulher poderia fazer um aborto sem ter de alegar qualquer motivo especial (liberalização). É contra estas duas últimas vertentes que só posso responder Não à pergunta do referendo.
A seu tempo trarei aqui outros argumentos laterais. Desde logo, a tristeza que me causa ouvir defender que é melhor abortar do que não poder depois pagar uma boa educação aos filhos, ou que mais vale não nascer do que não ser desejado. Chamem-me idealista, mas acredito que todos temos a possibilidade de ser felizes, quer tenhamos um início de vida mais fácil ou mais difícil, e estou disposto a implicar-me por essa causa.
O primeiro referendo fez-me tomar 2 opções. A primeira foi a de tirar o curso de Direito - a decisão já estava praticamente tomada, mas o empurrão final foi a vontade de perceber melhor o objectivo da criminalização de certos comportamentos e a aplicação das penas. Da mesma forma, a decisão de vir estudar Política Social deveu-se em parte à vontade de vir a trabalhar no combate à pobreza e apoio à maternidade. A segunda opção foi pelo voluntariado, que fiz durante algum tempo em instituições de apoio a grávidas em dificuldades - a Ajuda de Berço e a Ajuda de Mãe. Não me sentiria bem se não pusesse o meu tempo, as minhas capacidades e o meu dinheiro ao serviço de uma causa em que acredito: a de que nenhuma mãe que queria ter o seu filho se veja levada a abortar por falta de apoio.
Estou plenamente confiante que o Não vai ter mais votos. Nunca em 1998 vi sondagens tão optimistas para o Não como as que têm saído nos últimos dias - todas davam vantagens de cerca de 20-30% ao Sim, e depois foi o que se viu. Nunca em 1998 vi tanta gente a dar o corpo ao manifesto pelo Não como agora - desde os muitos movimentos e iniciativas, passando pelos vários blogues de gente nova, até aos meus Pais que não têm parado.
Mas quer ganhe o Não ou o Sim, sei que a luta mais importante, a de que o aborto seja cada vez mais raro, não termina a 11 de Fevereiro.
É uma discussão que já cansa, mas não a posso evitar. Já li e reflecti muito sobre este assunto, e quero fazer o que esteja ao meu alcance para que a 11 de Fevereiro o Não possa vencer de novo. Vou por isso expor aqui no blogue, nos próximos dias, as minhas ideias sobre o que está em jogo. E faço-o sobretudo porque há de certeza um ou outro indeciso desse lado.
É um debate onde tenho uma posição clara e apaixonada, mas em que saberei estabelecer limites. Não duvido que de um lado e doutro haja boas intenções. Tenho vários amigos a votar Sim (mas muitos mais a votar Não!) e conheço quem já tenha abortado, por isso respeito bastante a posição contrária. Da mesma maneira que exijo respeito.
Também não acho que o aborto seja uma questão religiosa. É verdade que a Igreja Católica tem uma posição bem firme e tem todo o direito de a defender (sem os lamentáveis excessos de linguagem, que são excepções). Contudo, os meus argumentos para votar Não não envolvem os conceitos de Deus, alma ou pecado, e felizmente partilho o meu sentido de voto com vários não católicos.
Começo por assumir uma posição radical, mas coerente, nesta matéria: se numa gravidez estamos já perante a vida de um novo ser humano, abortar será sempre destruir a sua vida, ainda que se trate do fruto de uma violação ou de um deficiente. Mas sei que estou em minoria (em posição simétrica, os que acham que o aborto deve ser possível em qualquer momento da gravidez), e de qualquer maneira não é isto que está em jogo neste referendo. Trata-se apenas de saber se queremos que em Portugal o aborto possa ser feito a pedido da mulher, por qualquer razão, até às 10 semanas.
Isso implicaria não só a eliminação da pena de prisão prevista no Código Penal (despenalização), com o qual até posso concordar (em relação às mulheres, mas não aos homens que as forçaram a abortar, ou para aos médicos e parteiras que realizam os abortos). Implicaria também que o aborto até às 10 semanas deixaria por completo de ser crime (descriminalização) e que qualquer mulher poderia fazer um aborto sem ter de alegar qualquer motivo especial (liberalização). É contra estas duas últimas vertentes que só posso responder Não à pergunta do referendo.
A seu tempo trarei aqui outros argumentos laterais. Desde logo, a tristeza que me causa ouvir defender que é melhor abortar do que não poder depois pagar uma boa educação aos filhos, ou que mais vale não nascer do que não ser desejado. Chamem-me idealista, mas acredito que todos temos a possibilidade de ser felizes, quer tenhamos um início de vida mais fácil ou mais difícil, e estou disposto a implicar-me por essa causa.
O primeiro referendo fez-me tomar 2 opções. A primeira foi a de tirar o curso de Direito - a decisão já estava praticamente tomada, mas o empurrão final foi a vontade de perceber melhor o objectivo da criminalização de certos comportamentos e a aplicação das penas. Da mesma forma, a decisão de vir estudar Política Social deveu-se em parte à vontade de vir a trabalhar no combate à pobreza e apoio à maternidade. A segunda opção foi pelo voluntariado, que fiz durante algum tempo em instituições de apoio a grávidas em dificuldades - a Ajuda de Berço e a Ajuda de Mãe. Não me sentiria bem se não pusesse o meu tempo, as minhas capacidades e o meu dinheiro ao serviço de uma causa em que acredito: a de que nenhuma mãe que queria ter o seu filho se veja levada a abortar por falta de apoio.
Estou plenamente confiante que o Não vai ter mais votos. Nunca em 1998 vi sondagens tão optimistas para o Não como as que têm saído nos últimos dias - todas davam vantagens de cerca de 20-30% ao Sim, e depois foi o que se viu. Nunca em 1998 vi tanta gente a dar o corpo ao manifesto pelo Não como agora - desde os muitos movimentos e iniciativas, passando pelos vários blogues de gente nova, até aos meus Pais que não têm parado.
Mas quer ganhe o Não ou o Sim, sei que a luta mais importante, a de que o aborto seja cada vez mais raro, não termina a 11 de Fevereiro.
2 comentários:
Eu ainda ando a reunir os argumentos para escrever sobre este assunto mas concordo contigo. Como futura mãe (estou grávida de 8 meses), este tema é-me particularmente caro neste momento. Infelizmente, não tenho a mesma confiança quanto à vitória do Não... Veremos.
Se estás em absoluta minoria, não és o único ;-)
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