segunda-feira, 7 de fevereiro de 2005

Expectativas

Sempre vivi um bocado sob o fantasma das expectativas. Dizem-me que é um problema comum, mas eu acho sinceramente que, quanto a isto, sou um pouco mais exagerado do que a média.
Desde a mais tenra juventude que me acostumei a pensar demasiado nas pessoas que me rodeiam, dando valor às boas relações que, graças a Deus, sempre tive, mas ao mesmo tempo fazendo demasiados juízos sobre o que pode faltar nessas mesmas relações. E isso torna-me demasiado planeado, pouco espontâneo. Sempre tive "níveis ideais de conhecimento" a desenvolver com cada um, qualquer coisa tão irrealista como os programas de governo que os partidos agora propõem. Às vezes a roçar o ridículo, como uma vez em que, no auge da adolescência, fui para férias (na saudosa Vermelha!) com um papelinho cheio de perguntas pessoais que queria fazer aos meus amigos.
Hoje sou um pouco mais descontraído, mas ainda não resisto a prever tudo e mais alguma coisa. Como vai ser bom fazer aquela viagem (por ex, Paris daqui a 4 dias!), como vai ser bom ter aquela visita aqui em Londres, como vai ser bom ir de férias... Outras vezes, ocupo a cabeça a sofrer por antecipação cenários que podem nem vir a acontecer, ou que não são tão maus como eu os pinto.
Depois, quando as coisas estão a acontecer em directo, é altura de confrontar a realidade com o cenário previsto. "Pensava que me ia dar tão bem com X e afinal..." Quase sempre há qualquer coisa que falha, mas às vezes também acontece o contrário. Por exemplo, quando vim para cá não esperava fazer tão rapidamente amizades, nem amizades tão fortes, mas desta vez tive uma boa surpresa!
Não consigo descobrir a razão que me leva a ser tão complicado, mas a sério que gostava de me libertar desta pressão. Descomplicar. Para meu bem e bem daqueles que têm de me aturar. E também acho que me devia concentrar em corresponder às expectativas (legítimas) que algumas pessoas possam ter acerca de mim.
Agora que o ano vai quase a meio, começam a surgir as expectativas sobre o que virá a seguir. Onde vou trabalhar quando voltar para Portugal? Devo voltar logo, ou aproveitar mais algum tempo cá para recuperar o investimento? Onde vai aparecer a pessoa com quem vou partilhar a vida? Com que idade vou casar? Como vou manter estas amizades intercontinentais?
Devia viver um dia de cada vez, mas não consigo...

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