quinta-feira, 23 de novembro de 2006

Orgulho

Quando vinha a sair do Royal Albert Hall, ainda a cantarolar as músicas que ressoavam na minha cabeça, o sentimento que me invadia era o orgulho nos artistas portugueses. Sempre gostei de música portuguesa e fico contente por ver esse talento reconhecido fora de portas. E mais contente ainda por os portugueses começarem também a valorizar o que é seu.
Que a Mariza tem uma voz fabulosa, capaz de encher uma sala tão grande quando no encore cantou sem microfone, já não é surpresa. Aliás, o alinhamento deste concerto foi praticamente o mesmo do que assisti no ano passado no Barbican. Ainda assim, a sua presença em palco, a maneira como dança e como sente (e nos faz sentir!), são sempre de admirar. Mas o que me deixou mesmo de coração cheio foi a celebração da 'lusofonia', com os vários convidados que ela trouxe.
Primeiro entrou Carlos do Carmo - eu nunca o tinha visto actuar, mas fiquei surpreendido pela maneira como ele conquistou o público e pôs todos, portugueses e estrangeiros, a cantar o refrão de "Lisboa menina e moça":

Lisboa menina e moça, MENINA
Da luz que os meus olhos vêem, TÃO PURA
Teus seios são as colinas, VARINA
Pregão que me traz à porta, TERNURA

Cidade a ponto cruz, BORDADA
Toalha à beira mar, ESTENDIDA
Lisboa, menina e moça, AMADA
Cidade, mulher da minha vida.




Como é bela a forma como Lisboa é retratada e personalizada nos seus fados! Podemos não ter o sotaque adocicado dos nossos irmãos brasileiros, mas temos poetas e compositores de excepção!
E não é só Lisboa que é cantada...

Ver-te assim abandonado
nesse timbre pardacento
nesse teu jeito fechado
de quem mói um sentimento
E é sempre a primeira vez
em cada regresso a casa
rever-te nessa altivez
de milhafre ferido na asa

Recebido com uma chuva de aplausos, lá apareceu o Rui Veloso, cheio de piada: "só vou cantar uma música porque estou aqui só de férias". E brindou-nos com o Porto Sentido, cantado em coro pelas almas lusitanas da plateia.
E ainda houve o Tito Paris, a trazer-nos as mornas de Cabo Verde (sôdade...), e o brasileiro Jacques Morelenbaum a conduzir a orquestra e tocar violoncelo. Estava assim desenhado o "triângulo da lusofonia", como lhe chamou Mariza.

Foi uma noite muito especial, onde também encontrei alguns dos portugueses do tuga meeting (Sónia, João e Ana) e um amigo colombiano. Para além da companhia do Eduardo e da Anne.

Bónus: na fila para entrar, fui filmado pela RTP e apareci no Telejornal. Nem no estrangeiro as câmaras me dão descanso... :)

2 comentários:

daqui disse...

ai que pena, que pena não ter podido ir! mais pena ainda depois de ler este relato!

Cromossoma X disse...

foi bom não foi?