sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007

Pelo Não - 5. Notas pessoais

Muito mais teria a dizer sobre este tema mas o tempo escasseia, e calculo que a paciência de alguns leitores também.

O facto de um crime ser comummente praticado sem grande censura social de quem o pratica (mas sim do acto em si) não lhe retira o sentido. Todos os que já fotocopiámos livros ou "sacámos" músicas da internet somos também criminosos. São crimes com pena de prisão prevista, e também não está ninguém preso por isso. Não tem funcionado comigo, mas acredito que muitas pessoas não o farão por ser contra a lei. Mas também não queria comparar coisas com gravidade tão diferente.

No fundo, todos concordamos que abortar é um crime, a diferença está em saber a partir de quando. Mesmo que o "sim" ganhe, abortar às 11 semanas continuará a ser crime. Para mim, é tão crime às 8 ou 9 como às 11 ou 15.

Eu consigo perceber muito bem as pessoas que acreditam que tornar o aborto legal vai diminuir o número de abortos, por permitir prestar mais esclarecimento às mulheres. Não partilho essa fezada, mas percebo-as. Tal como percebo quem ache que mais vale aumentar o número de abortos do que continuar a ter o aborto clandestino. Eu acho que é possível atacar o segundo sem ter de aceitar o primeiro, mas percebo-os.
Mas em toda esta campanha o que me custa mais ouvir é que os filhos têm de ser desejados e se não o forem não vale a pena. Que têm de ter todas as condições da vida moderna para terem direito a nascer. Essa conversa de prever o futuro duma pessoa, se vai ser ou não feliz, só porque foi mais ou menos desejada antes de nascer, ou tinha mais ou menos dinheiro, faz-me comichão bem lá no fundo! Claro que à partida é melhor quando se pôde preparar a vinda de um filho, mas quantos de nós não nascemos "do acaso" e temos uma vida normal à mesma?
É um avanço hoje termos os conhecimentos suficientes para podermos planear a vida e o melhor momento para ter um filho, mas é preciso estar bem ciente que pode haver um imprevisto, mesmo usando todos os métodos possíveis e imaginários. É assim a vida, sempre foi e será, e não é nenhum castigo de Deus para "meninos mal comportados"! Admiro todos os que aceitaram uma gravidez indesejada e, se porventura um dia me acontecer, quero agir da mesma maneira. E não virarei as costas a quem à minha volta passar por essa situação.
Nesses casos em que surje uma gravidez, para mim, e para todos os que votam "não", não há escolha: há apenas um novo ser humano que já existe e que em poucos meses estará cá fora e terá tantas hipóteses para ser feliz como qualquer outro. Mas para isso é preciso todos estarmos dispostos a promover as alternativas: lei laboral que proteja mais as mães, melhores incentivos à natalidade, instituições que apoiem as grávidas em dificuldades... Vamos pôr mãos à obra?
Não posso de maneira nenhuma concordar que nesses casos, ainda que difíceis, uma mulher tenha o direito de ir ao hospital e escolher terminar essa vida. A isto se resume o voto no "sim". E como diz o outro, assim NÃO!

6 comentários:

Anónimo disse...

Tanto quanto sei, a nova lei prevê a despenalização até às 10 semanas...
De pouco vai servir, tenho 3 filhos e 4 gravidezes(infelizmente perdi um bébé às 21 semanas) de todas as vezes que descobri que estava grávida, entre o atraso do período, os testes da farmácia e a confirmação do médico chegavam as 8-10 semanas se a isto ainda juntares a marcação para o aborto lá vai a legalidade...
Eu digo Não!! Vi o meu Bébé de 21 semanas nascer e nunca maei tanto um ser...

Anónimo disse...

"Não posso de maneira nenhuma concordar que nesses casos, ainda que difíceis, uma mulher tenha o direito de ir ao hospital e escolher terminar essa vida."

Mas concordas que o pai tenho o direito de abandonar a mulher que engravidou, porque não quer ter o filho? O homem sim tem escolha....que sorte!
manuela

milene disse...

manuela: a memória de termos sido abandonadas não se apaga abandonando quem de nós precisa..

o sim à despenalização do aborto ganhou.. a responsabilidade de pôr mãos à obra é ainda maior! como?

milene

andrea disse...

concordo com tudo o que dizes, e com muita pena minha ganhou o SIM eu votei NÃO e para mim não há outra resposta. espero só que quem se empenhou pelo SIM cumpra o seu dever, ensinar, educar e ajudar quem quer abortar, senão querem penalizar então arranjem alternativas que não ponham em risco a vida de um ser. se apenas querem um descargo de consciência então eu não fazer parte dessa "modernice".

Anónimo disse...

"a memória de termos sido abandonadas não se apaga abandonando quem de nós precisa.."
that's my point , isso fica à ESCOLHA de cada um, da mulher que ficou sozinha, não é por tu optares por algo que os outros têm de fazer igual a ti.

milene disse...

manuela, penso não ter dito que as pessoas têm de agir como eu...

respeito a escolha de cada um (muitas vezes gritada em caps lock), desde que essa escolha não lese a vida de outros e outros mais indefesos.
porque se respeitasse nestas situações, estaria a ser indiferente.. e a indiferença mata-me por dentro.