segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

Terramoto


Não estava em Portugal para sentir a terra tremer na segunda-feira, mas posso dizer que o abalo de domingo chegou forte aqui a Londres. Apesar de todas as sondagens, acreditava na vitória do 'não'; e como me dizia um amigo, mais valia pensar que íamos ganhar e depois ficar triste e desiludido, do que achar à partida que a derrota era certa e natural.
Se na noite de domingo me surpreendeu a aparente moderação de alguns discursos da esquerda, os jornais dos dias seguintes devolveram-me à realidade: várias clínicas estrangeiras a correrem ao negócio do aborto e os líderes socialistas a meterem o prometido aconselhamento na gaveta.
Outro amigo, bebendo da provocação de Louçã, regozijava-se pelo facto de voto de muitos católicos, segundo eles, ter dado a vitória ao 'sim'. E eu que achava que o aborto não era um assunto religioso... Ok, confesso que preferia que todos os católicos tivessem seguido a opinião da Igreja e dos seus pastores, mas não é só por um voto que os considero maus católicos. Iludidos, talvez. Mas por falar em carneirada, alguém ouviu na campanha a voz de um bloquista ou comunista pelo 'não'?

Em todo o caso valeu a pena! Porque muitos viram pela primeira vez a vida que cresce dentro da barriga, e perceberam que não é uma "coisa". Porque muitas caras novas apareceram nesta campanha (tiro o chapéu ao Pedro Luvumba!) e a política precisa de gente com convicções fortes. Destaco aqui o exemplo dos meus Pais, que nunca antes se meteram em política, e desta vez andaram pela rua a fazer campanha e estiveram nas mesas de voto.
Mas valeu a pena sobretudo porque das sinergias desta campanha vão surgir - tenho a certeza - mais redes de apoio a grávidas em dificuldades. Porque, agora que o aborto é mais fácil, temos ainda mais necessidade de mostrar que a alternativa de ter o bebé é sempre a melhor. E conhecendoo bem muitos dos que estiveram nesta luta, sei que não vamos desmoralizar com o resultado do referendo. E, claro, vamos estar bem atentos à aplicação da nova lei.

1 comentário:

Anónimo disse...

Tirar a vida... só porque sim?! Festejar porque se pode tirar a vida?! Não, meu caro, festeja-se porque as mulheres de poucos recursos não terão mais que correr riscos, nomeadamente de perder a liberdade, a saúde ou a vida, porque terem tomado a decisão de eliminarem aquilo que se tornaria numa vida para evitarem outro tipo de sofrimento. Para quem não tem muito, ter um filho não planeado pode ser, de facto, um problema sério - não só para a egoísta da mãe, mas muitas vezes para aqueles que dependem do emprego que ela poderá perder por levar a gravidez até ao fim.